sábado, 14 de dezembro de 2013

CIGANA SARITA


CIGANA SARITA

Era morena, de cabelos e olhos pretos.

Usava os cabelos presos em uma trança que caía pelo lado esquerdo do pescoço, indo até a cintura, e que tinha as pontas enfeitadas com fitas finas coloridas.

SUAS ROUPAS
Sarita usava blusa vermelha, curta, com mangas bufantes.

Na cintura levava uma faixa de várias cores.

A saia era feita até a metade com pano estampado; o resto era de pano liso amarelo, montado em babados cujas barras eram recortadas em bicos.
SEUS ADEREÇOS
Ela usava na cabeça um lenço estampado, predominando o amarelo-ouro; em dias de festa punha em cima do lenço uma tiara de flores vermelhas.

No pescoço ela trazia muitos colares de pedras em várias cores, predominando a vermelha.

Nas orelhas usava grande argolas de ouro; no dedo indicador da mão direita, um anel de ouro com um rubi e no mesmo dedo da mão esquerda, um anel de ouro com um topázio amarelo.

SUA MAGIA
Para unir um casal com filhos que se separou a cigana Sarita costumava fazer o seguinte: em um pote de barro com tampa ela colocava água de rio e triturava a semente do timbó-mirim (ou anileira verdadeira), produzindo uma água azulada (também se pode utilizar anilina azul para confeitos).

Nessa água ela colocava um papel com o pedido para juntar o casal, adicionava açúcar e um punhado da erva amor-agarradinho e, então, tampava o pote.

Em seguida, acendia duas velas amarelas em cima da tampa e dizia:

“Junte estas pessoas novamente, Santa Sara, pois eles tem (dizia o número de filhos) filhos que não pediram para vir ao mundo.”
Ela repetia esse pedido por sete dias seguidos.

Depois, enterrava o pote próximo de uma arvore frondosa e frutífera.

A fruta da sua preferência era maçã vermelha, e a fase da lua era a cheia.

Autora: Ana da Cigana Natasha
Livro: Ciganos do Passado Espírito do Presente
Editora: Pallas

Postado no Setembro 21, 2007 de alexdeoxossi
---------------------------
Cigana Sarita

Sarita acordava sentindo o cheiro das flores que trazido pelo vento que balançava a alva cortina da janela.
O sol estava radiante lá fora e embora ela já estivesse sentindo-se bem melhor, ainda não tinha coragem de sair da cama.
O quarto aconchegante na sua simplicidade, era convidativo ao descanso.
Absorta em seus pensamentos, nem percebeu a presença do enfermeiro que entrara com o seu desjejum e que parado a observava.
Olhava os pássaros que pulavam de galho em galho num festival de alegria, como a saudar a vida, quando foi desperta pelo " bom dia" de Raul.
- Oh...desculpa eu estava distraída.
- Encontrá-la acordada é muito bom. Vamos ao desjejum pois hoje nós vamos levantar desta cama e ensaiar os primeiros passos no seu novo mundo.
- Não me sinto capaz de caminhar ainda. Na verdade não sinto minhas pernas.
- Sarita, já conversamos sobre isso. É apenas impressão trazida no seu corpo mental. Você só precisa tomar uma decisão firme que quer caminhar e assim se processará. Essas pernas que te acompanharam além túmulo são saudáveis. Foram longos anos de dor e sofrimento, mas agora tudo acabou, é preciso que se conscientize disso e reaja.
Com a paciência e disciplina de um instrutor, Raul conseguiu com que Sarita desse seus primeiros e cambaleantes passos.
E em poucos dias entusiasmada com a beleza do local, esqueceu da suposta limitação já caminhava feliz por aquele maravilhoso jardim, que mais parecia um bosque.
Passara-se alguns anos do calendário terreno desde essa época e Sarita lembra-se ainda emocionada de sua história triste com final feliz.
Não havia como não recordar, especialmente agora que estava em treinamento naquela colônia espiritual para assumir um trabalho junto aos encarnados.
Apreensiva lembrava da manhã em que foi convidada a frequentar os bancos escolares, por seu " mestre-anfitrião" .
Como estivesse já ambientada com o local e sabedora de como eram distribuídas as funções de acordo com a afinidade e principalmente necessidade de cada espírito, sabia perfeitamente que não seria chamada ao trabalho de "anjo-de-guarda" , mas tendo a certeza de que suas funções se dariam no plano terreno, isso a atemorizava um pouco, pela experiência da última encarnação.
No curso, os ensinamentos todos recebidos eram perfeitamente adaptados ao aluno de acordo com as experiências trazidas e no final deste, Sarita não tinha mais dúvidas.
Trabalharia nas fileiras da nova religião que se instalava no país onde vivera sua última encarnação, a Umbanda.
Pelo seu conhecimento magístico mal aproveitado, teria que direcioná-lo agora para se fazer cumprir a lei.
Em breve seria apresentada ao médium com quem trabalharia como Pomba Gira, mas de antemão já sabia que embora ele fosse umbandista, tinha preconceito com essas entidades.
O desafio recomeçava.
Olhando a lua que bailava por entre as estrelas, Sarita deitada sobre a relva meditava, fazendo uma retrospectiva de sua última encarnação.
Lembra-se de sua infância feliz vivida junto de muitas outras crianças, naquela vida nômade que levava sua trupe.
A adolescência onde seus "dotes" ou poderes mágicos se acentuaram e quando começou a ser a cigana mais requisitada para ler as mãos das pessoas.
Sua tenda, onde quer que estivessem havia sempre freguês certo e era através dela que obtinham a maior renda para a sobrevivência do grupo todo.
Após febre muito forte sofrida em função de uma infecção adquirida, Sarita sentiu que seus "poderes" de adivinhação haviam sumido, mas de maneira alguma deixou aparentar isso ao grupo ou a quem fosse e daí em diante passou a fingir e cobrar mais caro por isso.
E o dinheiro fácil passou a entusiasmá-la e como sempre fora muito vaidosa, agora podia se cobrir com as jóias mais caras e deslumbrantes e vestir-se com as sedas mais finas.
Tornou-se a cigana mais respeitada e logo assumiu o comando do grupo.
A ternura angelical daquela jovem agora desaparecia, dando lugar a um radicalismo quase maldoso quando agia em defesa dos seus.
Seu povo era muito perseguido e discriminado naquelas terras e isso fazia com que Sarita procurasse ganhar muito dinheiro e para tal não media consequências, para com isso adquirir poder se impor diante das perseguições.
Numa emboscada que se fez passar por um acidente, Sarita desencarnou deixando seu povo sem líder e desesperado.
A dependência de seu povo era tamanha que não sabiam mais pensar sozinhos e a morte daquela cigana a quem consideravam quase uma deusa os pegou desprevenidos.
E nesse desespero buscavam a ajuda do espírito de Sarita, pois acreditavam que agora virara santa e que certamente, mesmo do outro lado, ela não desampararia seu povo.
Em função disso criaram cultos e os peditórios foram aos poucos, se espalhado além do povo cigano e o túmulo de Sarita virou santuário, com filas enormes de pessoas que se aglomeravam em busca dos milagres.
Ignorando a realidade do lado espiritual, não sabiam o mal que estavam fazendo aquele espírito que desesperado se via fora do corpo carnal, mas grudado nele, sentindo sua deterioração.
Em desespero total e agarrada as suas jóias com as quais foi sepultada, Sarita pedia socorro.
Os amparadores espirituais lá estavam querendo ajudá-la, mas ela sequer os enxergava dentro do seu desespero e revolta pelo acontecido.
Ouvia toda a movimentação que se fazia fora de seu túmulo e por mais que gritasse, ninguém a ouvia.
Se existia inferno, o seu era esse.
Tudo aquilo durou longos e tenebrosos anos, até o dia em que seu túmulo foi assaltado durante a noite e os ladrões levaram suas preciosas jóias.
Em desespero, assistindo a tudo nada podia fazer, restando-lhe apenas um monte de ossos.
Só então se deu conta de sua verdadeira situação e lembrou do que sua mãe a ensinara quando pequena sobre a vida após a morte.
A lembrança de sua mãe a fez chorar, implorando que ela a viesse tirar daquele sofrimento.
Depois disso desacordou e só após muito tempo hospitalizada no mundo espiritual é que acordou, sabendo do isolamento que se fizera necessário em função das emanações vindas da terra, por causa de sua falsa "santificação".
Seu povo agora usava a imagem da idolatrada Sarita em medalhas que eram vendidas como milagreiras, além de manter seu túmulo como verdadeiro comércio visitado por caravanas vindas de lugares distantes.
Lembrava do dia em que, já curada e equilibrada pode visitar aquele lugar junto com seus amparadores, para seu próprio aprendizado e das palavras sábias de seu instrutor:
- Filha, o mundo ainda teima em manter os mercadores do templo. Criam-se os milagreiros que após o desencarne passam a ser santificados de maneira egoísta e mesquinha, preenchendo o vazio que a falta de uma fé racional se faz no coração dos homens. Mentiras mantidas por pastores que visando o brilho do ouro, traçam caminhos duvidosos e perigosos para suas ovelhas, dando com isso, imenso trabalho à espiritualidade deste lado da vida. Criam uma farsa que é mantida pelo desespero de pessoas ignorantes e sofredoras, obrigando-nos a formar verdadeiros exércitos de trabalhadores com disponibilidade de atendimento a essas criaturas. Mesmo assim, por mais errado que seja esse tipo de atitude, a Luz o aproveita para auxiliar os necessitados mantendo ali um pronto socorro. E fora o sofrimento do espírito "santificado" que se vê vivo e impotente do outro lado, aliado a distorção comercial, esses lugares servem para que muitos espíritos encontrem ali o portal de retorno.Sarita tentando manter o equilíbrio e as emoções, via o intenso movimento de espíritos trabalhadores, socorrendo os desencarnados que vinham em bando junto aos romeiros e observava pela primeira vez como aconteciam os chamados milagres.
Uma senhora chorosa, ajoelhada aos pés do túmulo implorava pelo espírito de Sarita a cura de sua filhinha que estava ficando cega devido a uma doença rara que exigia cirurgia caríssima, longe de suas possibilidades financeiras
A fé dessa mulher e o a amor por sua filha eram tão intensos que de seu cardíaco e de seu coronário exalavam chispas luminosas que se perdiam no ar.
Ao seu lado, dois espíritos confabulavam analisando uma ficha com anotações e logo em seguida um deles, colocando a mão sobre a cabeça da mulher transmitiu-lhe vibrações coloridas que a acalmaram, intuindo-a a ter a certeza de que seu pedido seria atendido.
Deixando algumas flores sobre o túmulo ela se retirou.
Curiosa, fui ter com os dois jovens, querendo saber o que realmente acontecia nesses casos.
- Minha irmã, analisamos cada caso e dentro do merecimento de cada espírito e de acordo com a fé e sinceridade de propósitos, sempre respeitando a lei e o livre-arbítrio das criaturas envolvidas, procuramos auxiliar. Essa senhora será procurada por um grupo de estagiários de medicina que mesmo como cobaia de seus estudos, levarão sua filha a cirurgia que necessita, retornando a ela a visão.
- Ah, e certamente isso será atribuído a mim como mais um milagre.
- A você? - indagou contrariado um dos jovens.
- Sim...ah, me desculpem, não me apresentei. Sou a própria, a cigana Sarita.
- Nossa, que surpresa!!! Muito prazer! Não é todo dia que se conhece uma "santa", brincou o outro.
Com um sorriso amarelo, Sarita tentou em vão desconversar, pois agora a curiosidade deles era maior do que a dela em saber detalhes de como tudo isso havia ocorrido.
E longe dali, em lugar mais propício, junto à natureza eles trocaram válidas experiências.
Mas agora tudo isso eram lembranças.
Aquele espírito em cuja última encarnação terrena viera como uma cigana que se chamava Sarita, agora no mundo espiritual se comprometia e assumir um trabalho difícil no qual sentiria de perto, novamente o preconceito dos seres humanos.
Preconceito esse tão grande e revestido de tamanha ignorância que certamente muitas vezes seria tratada como verdadeiro "demônio" sendo expulsa como tal.
Mesmo assim, sabia que teria que atuar dentro da lei e ignorando tudo isso, trabalhar com muito amor, auxiliando os encarnados a se curarem das mazelas, pois só assim curaria as suas que estavam impressas em seu átomo primordial, carecendo de urgente reparo.
Enquanto seu médium girava no terreiro ecoando uma gargalhada que avisava a chegada de pomba gira cigana, romeiros continuavam buscando no túmulo da Santa Cigana Sarita, o milagre que ignoravam residir apenas dentro deles mesmos.


História contada por Vovó Benta
Leni W.Saviscki

Nenhum comentário:

Postar um comentário